Migas de Espargos

Migas de Espargos, um manjar de deuses para pobres mortais. Serve-se na exangue Planície Transtagana. Prove, antes que acabe.

2005/11/16

O pão de Cicioso

D. João II passava longos períodos em Évora. Ocorreram, nesta cidade, alguns episódios ligados ao seu reinado. O que vou contar, prende-se com a falta de pão, na cidade-museu, num mau ano agrícola.
Apelando à boa vontade de parte da nobreza e de alguns homens abastados da cidade que possuíam cereal armazenado, o Rei ofereceu-lhes o pagamento de 30 réis o alqueire, um preço relativamente elevado. Contudo, na expectativa de maiores ganhos, quase todos recusaram. Apenas conseguiu a adesão de um único cidadão que colocou as suas reservas à ordem do Rei, dispondo-se a um recebimento de apenas 20 réis. D. João II pagou a 30 e agradeceu. De imediato, negociou com castelhanos a compra de cereal e inundou o mercado eborense. Deste modo, os especuladores que se preparavam para lucros elevadíssimos, à custa das necessidades do povo, ficaram com o trigo em casa e tiveram que vender, no ano seguinte, as reservas a 14 réis.
O cidadão eborense que se pôs à disposição do Rei, de seu nome João Mendes Cicioso, foi o único que lucrou com o negócio. Da sua acção patriótica e de lealdade nunca mais a cidade esqueceu. Ainda hoje, existe uma rua com o seu nome: Rua do Cicioso.
Uma acção de estratégia bolsista, num mercado sem Bolsa. A sagacidade de D. João II.