Aqui jaz um poeta dum cabrão!
O grande Manuel da Fonseca terá confessado, numa roda de amigos, algum tempo antes de morrer que gostaria de ter, no epitáfio da sua campa, a inscrição que dá o título a este "post": "Aqui jaz um poeta dum cabrão!" Afiança um admirador (não presente) que o que ele disse mesmo foi: "Aqui jaz um poeta dum real cabrão!"
Com "real" ou sem "real", aqui fica este poema:
Com "real" ou sem "real", aqui fica este poema:
------------------------------------------
Romance do Terceiro Oficial de Finanças
-------------
Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!
As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!...
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe os segredos dos grandes silêncios
— os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!...
(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te...)
Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada na vida!...Da vida
é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!
— isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal!...
-------------
Não é mesmo um poeta dum raio?